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Quando há benção na música

Há duas situações musicais nas quais eu creio que a benção está presente. Uma delas acontece quando um sacerdote ou organista, ele próprio uma pessoa, treinada e de gosto refinado, de forma humilde e carinhosa, sacrifica seus próprios anseios — todos esteticamente corretos — e entrega ao povo uma porção mais humilde e simples, crendo que, assim, conseguirá levá-los para mais perto de Deus. A outra situação ocorre quando outra pessoa, totalmente ignorante em termos musicais e artísticos, ouve humilde e pacientemente uma obra que é incapaz de apreciar por inteiro, crendo que, de alguma forma, ela glorifica a Deus. Caso não edificar aquele ouvinte inculto, ele assume que a falha deve estar nele, e não no executante. Nem o erudito nem o ignorante devem se desviar desse caminho. A música terá sido um canal da graça para ambos; não a música que os agradou, mas aquela que os desagradou. Ambos sacrificaram e ofereceram seus gostos no mais profundo dos sentidos. Mas no lado oposto dessas situaç

A questão sobre o Cristo

"O que fazer com Jesus Cristo?”. Esta é uma questão que tem, em certo sentido, um lado desesperadoramente cômico. A figura de uma mosca sentada decidindo o que vai fazer com um elefante possui elementos cômicos. Pois a verdadeira questão não é sobre o que nós vamos fazer com Jesus Cristo, mas o que Ele vai fazer conosco. Contudo, talvez, o questionador quis dizer o que fazer com Ele no sentido de “como resolveremos o problema histórico a nós lançado pelos ditos e feitos registrados desse Homem?”. Esse problema envolve reconciliar duas coisas. Por um lado, tem-se a quase geralmente admitida profundidade e sanidade de Seu ensino moral, que não é muito seriamente questionado, mesmo por aqueles que se opõem ao Cristianismo. Na realidade, acho que, quando estou discutindo com pessoas extremamente anti-Deus, elas preferem fazer o seguinte apontamento: “Sou inteiramente a favor do ensino moral do Cristianismo” – e parece ser de aceitação geral que, no ensino desse Homem e de Seus seguido

Um "insight" sobre o louvor

O fato mais óbvio sobre o louvor, porém — seja de Deus, seja de qualquer coisa — estranhamente me escapara. Eu o considerava um tipo de elogio, aprovação, ou honra. Jamais eu percebera que toda a alegria transborda espontaneamente em louvor a não ser que se permita deliberadamente que a timidez ou os medos de entediar os outros o refreie. O mundo ressoa de louvor: apaixonados louvam suas amadas; leitores, seu poeta favorito; caminhantes, a paisagem; esportistas, seu jogo predileto — louvor do tempo, dos vinhos, dos pratos, dos atores, dos motores, dos cavalos, das universidades, dos países, de personagens históricos, de crianças, flores, montanhas, selos raros, besouros exóticos, e às vezes até de políticos e professores. Eu ainda não tinha percebido como as mentes mais humildes, e ao mesmo tempo mais equilibradas e abertas, louvavam mais, enquanto as rabugentas, desajeitadas e descontentes louvavam menos. Nem percebera eu que, assim como as pessoas louvam espontaneamente o que quer qu

A desvantagem de ter duas cabeças

Com a esperança de que, caso ela seja tentada, sequer uma vez, a aceitar a oferta de ter duas cabeças, esta breve narrativa seja suficiente para dissuadi-la de tão enganoso caminho. Um pequeno garoto olhou, certa vez, por sobre a cerca do jardim e viu quatro cavaleiros usando enormes cristas. Como ele agora está casado com uma princesa e vive num meio social muito bom, ele deseja que seu nome não seja mencionado; vou chamá-lo então Perna Vermelha.​   ​Sendo interessado em tais coisas, ele pulou a cerca e foi saber aonde eles estavam indo. Eles se depararam com um homem muito velho que estava sentado na ponta muito aguda de uma pedra, balançando-se. Os cavaleiros, que pelo seu chapéu pão-de-açúcar e sua barba branca, viram que ele era um mago, perguntaram-lhe onde poderiam encontrar a Princesa Japônica (pois assim a princesa, que é parente minha, deseja ser descrita). “A Princesa Japônica”, respondeu o mago, “vive no castelo para além da Última Floresta do Mundo, num lugar onde é sempre

Lewis e a Depravação Total

Este texto é uma pequena resenha do terceiro capítulo do livro "O Problema do Sofrimento", de C. S. Lewis, chamado: "A Bondade Divina". Às vezes discordamos de uma doutrina porque não a entendemos bem. Eu entendo que a crítica de Lewis quanto a doutrina da Depravação Total tem a ver com uma confusão muito comum até mesmo entre estudantes da Teologia Reformada. Na verdade, a doutrina da Depravação Total do ser humano tem a ver com sua extensão, e não com seu grau. Em outras palavras, o homem é totalmente depravado no sentido de que cada aspecto de seu corpo e alma foi corrompido pelo pecado. Mas ainda assim, podemos discernir (em suas devidas proporções, de acordo com a medida de graça de cada um e quão exercitada na piedade a pessoa seja) entre o bem e o mal. Todos os homens possuem (ou podem ter possuído em algum momento de sua vida) uma consciência que ora lhe acusa, ora lhe defende (Romanos 2:15). Em determinado grau eles ainda guardam a semelhança de Deus

5 regras para escrever bem: carta de C. S. Lewis a uma jovem escritora

Joan Lancaster começou a se corresponder com C. S. Lewis quando ainda era criança. Nas correspondências que trocavam, sobram análises literárias e dicas com relação à sua escrita. Em uma carta de junho de 1956 — alguns meses antes da publicação do último livro da série As Crônicas de Nárnia: A Última Batalha — ele dá essas cinco dicas ao escrever:  1. Sempre tente usar a linguagem para deixar bem claro o que você quer dizer e certifique-se de que sua frase não possa significar mais nada.  2. Sempre prefira uma palavra simples e direta a uma prolixa e vaga.  3. Nunca use substantivos abstratos quando os concretos servirem. Se você quer dizer “mais pessoas morreram”, não diga “a mortalidade subiu”.  4. Não use adjetivos que simplesmente nos dizem como você quer que nos sintamos sobre o que você está descrevendo. Quero dizer, em vez de nos dizer uma coisa foi "terrível", descreva-a de forma que o leitores fiquem aterrorizados. Não diga que foi "delicioso"; faça-nos diz

Breve história de Nárnia e nosso mundo

"Toda a história de Nárnia é sobre Cristo. Isto quer dizer que eu perguntei a mim mesmo “Suponha que havia realmente um mundo como Nárnia e suponha que (como no nosso mundo) algo havia dado errado e suponha que Cristo quis ir a este outro mundo e salvá-lo (como Ele fez no nosso), o que poderia ter acontecido?” As histórias são as minhas respostas." C. S. Lewis, 1961 Eis um pequeno ensaio sobre isto: O que "deu errado" em nosso mundo? Esta talvez seja fácil responder: "E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?  Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi." Gênesis 3:11-12 E como aconteceu em Nárnia? “Vejam só, companheiros: antes que o mundo limpo e novo que lhes dei tivesse sete horas de vida, a força do Mal já o invadiu, despertada e trazida até aqui por este Filho de Adão.” Qual foi a solução? “Mas não se deixem abater. O